Muito mais que um besteirol marveliano
O filme Pantera Negra, vencedor de três prêmios no Oscar 2019 (Figurino, Design de Produção e Trilha Sonora) poderia ser apenas mais um “besteirol marveliano”. Daqueles filmes bestas de super-herói, do qual não se cobra muita coerência, nem comprometimento. Quem esperava ver piadinhas idiotas ditas de 15 em 15 minutos, mesmo em meio a mortes e ao caos, como em outros filmes tipo Homem Aranha, Thor, Homem de Ferro e Capitão América, vai estranhar a seriedade do Pantera. Os fãs do Deadpool devem ter odiado.
Além do peso da história, o Pantera é diferente. Nele o rei e a rainha são negros, o herói e a mocinha (não confundir com indefesa) também são negros, os guerreiros são negros e as guerreiras, além de lindas e poderosas, são negras. Ah, o vilão também é negro. Isso pode parecer óbvio, afinal a Pantera é negra né: Mas, devemos lembrar estamos falando de Hollywood onde, segundo a pesquisa “Inequality in 700 popular films” 73,1% dos elencos dos 100 filmes mais assistidos de 2015 eram brancos. Sim, a cor dos atores é importante. É uma questão de representatividade. É gostoso, pra variar, se enxergar na pele da realeza, dos mocinhos, daqueles com valor. Voltando ao filme, devo dizer que o diretor, Ryan Coogler, também é negro rsrsrs.
A partir daqui, alerta de spoilers.
O ambiente principal do filme é o drama do príncipe T’chala (Chadwick Boseman), o portador do traje e dos poderes do Pantera Negra. T'chala se vê obrigado a assumir as responsabilidades de Rei da pequena nação de Wakanda, após seu pai ser assassinado em um ato terrorista. Wakanda é uma nação incrustada no coração do continente africano. Graças à presença de grande quantidade de “vibranium”, metal mais precioso do universo Marvel, Wakanda se apresenta como a nação tecnologicamente mais desenvolvida da Terra. Tão desenvolvida que por meio de sua tecnologia conseguiu se manter oculta do mundo até os dias de hoje.
O ambiente principal do filme é o drama do príncipe T’chala (Chadwick Boseman), o portador do traje e dos poderes do Pantera Negra. T'chala se vê obrigado a assumir as responsabilidades de Rei da pequena nação de Wakanda, após seu pai ser assassinado em um ato terrorista. Wakanda é uma nação incrustada no coração do continente africano. Graças à presença de grande quantidade de “vibranium”, metal mais precioso do universo Marvel, Wakanda se apresenta como a nação tecnologicamente mais desenvolvida da Terra. Tão desenvolvida que por meio de sua tecnologia conseguiu se manter oculta do mundo até os dias de hoje.
Wakanda é o verdadeiro oposto do estereótipo que se propagou sobre as nações africanas. Em lugar do atraso, a tecnologia capaz de construir o formidável traje do Pantera, em vez da fome, a prosperidade de quem há 300 anos escava o vibranium, mas que sequer arranhou as enormes reservas do metal, em vez da doença, as avançadas técnicas de cura que salvam um agente da CIA, mortalmente ferido com um tiro na coluna. Sem dispensar suas tradições, Wakanda representa o sonho de uma África próspera e desenvolvida, intocada pelo colonialismo e pela exploração vivenciada pelos países africanos desde o século XV.
Mas nem tudo são flores no Reino de Wakanda. Em diversos momentos seus governantes são questionados com relação a sua ausência e descaso para com o sofrimento de milhares de afrodescendentes pelo mundo. Se Wakanda é tão rica, próspera e avançada por que não usar esse poder para amenizar o sofrimento de seus filhos espalhados pela diáspora?
Pantera Negra foi considerado o melhor filme da Marvel, segundo o gigantesco portal que se dedica a esse universo, o “Rotten Tomatoes". Uma das causas desse sucesso são as motivações do vilão da trama Erik Killmonger (Michael B. Jordan), consideradas reais e convincentes pelos críticos. Killmonger é primo de T’chala, logo, também é da família real. Entretanto ele foi abandonado por seus parentes, ainda criança, o que, ao mesmo tempo alimentou seu ódio e seu desejo de ajudar os demais abandonados por Wakanda.
Em um momento onde o mundo vive umas das mais graves crises migratórias do mundo, o debate entre abertura e autopreservação está mais vivo do que nunca. Autopreservação, inclusive, é a justificativa dos governantes de Wakanda para o sua ausência no auxílio aos outros povos. Killmonger não é o tipo de vilão que quer dominar o mundo "por que sim". Sua intenção é nobre, empoderar e libertar da opressão os negros do mundo com as avançadas armas de vibranium. Sim, é um vilão malvado. Muito mais pelos meios que emprega do que por seu objetivo.
A assembleia geral da ONU proclamou o período entre 2015 e 2024 a década internacional dos Afrodescendentes, com o tema "reconhecimento, justiça e desenvolvimento". Assim, não deve ser tomado como coincidência o lançamento de um filme com essas características, não nesse momento. Essa produção segue um movimento mundial de empoderamento e aumento da representatividade dos negros em diversos setores, que só tende a aumentar.
Muito mais que um "besteirol marveliano" o Pantera Negra é um filme que mexe com a nossa imaginação, enquanto nos faz refletir. Encanta-nos pensar na existência de Wakanda: a África prospera sem os golpes de estado, sem as intervenções estrangeiras e sem as guerras civis. Ao mesmo tempo nos faz pensar se é justificável a ausência programática de alguns players na resolução dos conflitos mundiais, sob o pretexto de autopreservação. E onde está a nossa parte nas riquezas do Vibranium, do Petróleo, do Ouro ou dos Diamantes?
Infelizmente, contra todos os problemas levantados nesse texto, Wakanda ainda é apenas uma ficção. Por enquanto, "deixe-me descansar no oceano juntamente com meus irmãos que preferiram a morte, que uma vida de escravidão". Ahhh... Já ia me esquecendo, Pantera Negra também tem ação, romance e aventura.
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